Hoje, suplementos de proteína como shakes, pós e barras se tornaram populares entre adolescentes que buscam ganhar massa muscular ou manter o peso. No entanto, especialistas de saúde, principalmente pediatras e nutricionistas, mostram-se cautelosos quanto ao uso regular desses produtos entre jovens, destacando que a dieta balanceada continua sendo a maneira mais segura e eficaz para a maioria dos adolescentes alcançar seus objetivos de saúde.
Recentemente, uma pesquisa do Hospital Infantil CS Mott revelou que 46% dos adolescentes já consumiram suplementos de proteína no último ano, com os meninos utilizando principalmente para ganho muscular, enquanto as meninas muitas vezes os utilizam como substitutos de refeição ou para perda de peso. Além disso, quase um em cada cinco pais acredita que seus filhos não estão consumindo proteína suficiente, o que pode estar incentivando o consumo desses produtos.
Então, até que ponto é seguro para os adolescentes consumirem esses suplementos? E o que os especialistas recomendam para que pais e jovens façam escolhas mais informadas?
Proteína na Dieta: Quanto é Realmente Necessário?
A necessidade de proteína para adolescentes é real, mas pode ser suprida de forma equilibrada com a alimentação. As orientações de ingestão diária recomendada (IDR) sugerem que meninas adolescentes entre 14 e 18 anos consumam 46 gramas de proteína por dia, enquanto os meninos na mesma faixa etária necessitam de aproximadamente 52 gramas. Esses valores costumam ser atingidos por meio de uma dieta equilibrada, contendo alimentos variados dos cinco grupos alimentares principais — proteínas animais e vegetais, grãos integrais, frutas, legumes, e laticínios.
Contudo, a dieta de adolescentes pode, às vezes, ser mais influenciada por tendências, como o desejo de emagrecer ou de ganhar massa muscular rapidamente, do que por uma orientação nutricional adequada. Esse interesse cresce quando adolescentes começam a buscar um “ideal de corpo” amplamente promovido nas mídias sociais, gerando a ideia de que consumir suplementos proteicos é um atalho para alcançar os objetivos. A Dra. Sarah Clark, codiretora da pesquisa do Mott e cientista da Universidade de Michigan, aponta que o marketing de suplementos pode criar a percepção de que mais proteína é igual a mais saúde. “Isso não é verdade”, afirma Clark. Segundo ela, é essencial que adolescentes e seus pais entendam que equilíbrio é o segredo para uma dieta saudável, e que muitos produtos ricos em proteína podem conter aditivos, como açúcares e cafeína, que não são benéficos à saúde.
O Papel da Suplementação e Seus Riscos
De acordo com a nutricionista pediátrica Diana Schnee, do Cleveland Clinic Children’s, a suplementação de proteína para adolescentes raramente é recomendada. Schnee explica que, na maioria dos casos, adolescentes conseguem toda a proteína necessária diretamente dos alimentos. Somente em algumas situações específicas, como em dietas vegetarianas ou veganas rigorosas, pode haver uma necessidade real de suplementação, mas sempre sob orientação de um nutricionista.
Entre os riscos do uso desnecessário de suplementos proteicos estão a desidratação e a sobrecarga dos rins. O excesso de proteína exige mais do organismo para ser metabolizado, o que pode resultar em um aumento da excreção de ureia e, consequentemente, de líquido. Com isso, os rins acabam sendo submetidos a um trabalho extra, e a falta de hidratação adequada pode intensificar o problema. Outro ponto importante é a ausência de regulamentação rigorosa da FDA (Food and Drug Administration) sobre proteínas em pó, o que significa que esses produtos podem conter substâncias indesejadas e até mesmo prejudiciais, como estimulantes, que não constam de maneira clara nos rótulos.
O controle da FDA sobre suplementos alimentares é menos rígido do que sobre medicamentos, atuando de forma retroativa: se um produto no mercado for identificado como adulterado ou incorretamente rotulado, a agência pode tomar medidas, mas não verifica previamente a segurança de todos os suplementos. Assim, os consumidores podem estar se expondo a componentes que desconhecem ou a uma dosagem elevada de substâncias que trazem riscos.
A Importância de Ingerir Proteína de Forma Balanceada ao Longo do Dia
Para maximizar os benefícios da proteína e evitar excessos, os especialistas recomendam que ela seja distribuída ao longo do dia, em porções moderadas em cada refeição. Comer alimentos ricos em proteínas, como ovos, iogurte, carnes magras e leguminosas em horários diferentes, permite que o corpo absorva e utilize melhor os aminoácidos essenciais. Segundo a Cleveland Clinic, esses aminoácidos essenciais — que incluem leucina, lisina, valina, entre outros — estão disponíveis de maneira mais completa em fontes animais, mas também podem ser consumidos a partir de combinações de vegetais, como arroz com feijão.
Para que uma alimentação balanceada seja uma alternativa real e suficiente, os adolescentes precisam consumir refeições que incluam não só proteínas, mas também carboidratos, gorduras saudáveis, fibras, vitaminas e minerais. Uma dieta rica em variedade tende a garantir que o corpo receba os nutrientes de que precisa para sustentar o desenvolvimento muscular e metabólico na fase de crescimento.
Construindo uma Rotina Saudável: Alimentação, Hidratação e Sono
Para um bom desempenho físico e mental, o corpo adolescente também precisa de sono e hidratação adequados. Durante o sono, o corpo passa por processos essenciais de recuperação muscular e consolidação de memórias, além de regular os hormônios do apetite. O sono inadequado e a falta de água podem reduzir o desempenho físico e mental e prejudicar o sistema imunológico. Diana Schnee aponta que, sem uma boa noite de sono e hidratação regular, o uso de suplementos de proteína não será eficaz para promover um bom desenvolvimento.
Os adolescentes ativos, principalmente os que praticam atividades esportivas intensas, precisam prestar atenção redobrada à hidratação, pois a prática de esportes aumenta a demanda por líquidos. A proteína, juntamente com os outros nutrientes, cumpre seu papel no desenvolvimento físico, mas é no descanso e na hidratação que o corpo terá condições para assimilar e construir força.
O Papel dos Pais e Profissionais de Saúde
Muitos pais, buscando apoiar os objetivos de saúde e desempenho de seus filhos, incentivam o uso de suplementos, segundo a pesquisa do Hospital Mott. No entanto, essa motivação deve ser sempre acompanhada de uma orientação equilibrada sobre os riscos e os limites da suplementação. Consultar um nutricionista pediátrico pode ser um ótimo primeiro passo para entender as reais necessidades proteicas e nutricionais dos adolescentes, evitando que a suplementação seja vista como uma solução “mágica”.
Os nutricionistas recomendam que, para qualquer adolescente que esteja considerando o uso de suplementos, a melhor opção é procurar aqueles que foram testados por terceiros, como produtos com selo de qualidade da NSF, que garante a segurança e eficácia dos ingredientes. A presença desse selo oferece uma camada extra de segurança ao consumidor, especialmente considerando que muitos suplementos no mercado podem conter substâncias indesejadas ou excessivas.
Conclusão: Mais do que Proteínas, um Estilo de Vida Equilibrado
O uso de suplementos de proteína pode parecer uma maneira rápida e prática de atender às metas de saúde e estética, mas raramente é necessário para adolescentes, que podem obter todos os nutrientes necessários por meio de uma dieta variada e equilibrada. Os especialistas recomendam uma abordagem holística que considere, além da alimentação, a importância do sono e da hidratação na saúde e no desenvolvimento.
Em vez de apostar em shakes e barras proteicas, adolescentes e seus pais podem focar em aprender sobre nutrição, equilibrando refeições e criando uma rotina que inclua variedade de alimentos e cuidados com o bem-estar geral.
FONTE: CNN
