O aumento da solidão é uma realidade para muitos adultos ao redor do mundo. Seja pela mudança para uma nova cidade, o trabalho remoto ou a redução de interações sociais presenciais, as experiências de vida podem criar um cenário de isolamento que nem sempre é fácil de mudar. No entanto, especialistas em saúde mental sugerem que dar pequenos passos em direção a uma maior interação com a comunidade pode ajudar significativamente a reduzir esses sentimentos.
Estatísticas recentes destacam a dimensão desse problema: segundo uma pesquisa da Gallup, um em cada cinco adultos nos Estados Unidos relatou ter sentido solidão em algum momento significativo do dia. Essa situação é amplamente reconhecida como uma “epidemia de solidão” pelo Cirurgião Geral dos EUA, Dr. Vivek Murthy. A solidão não só afeta o bem-estar emocional, como também está ligada a problemas de saúde, incluindo distúrbios do sono, inflamação e redução da expectativa de vida.
O isolamento social tem duas frentes, explica a Dra. Gemma Hughes, da Universidade de Leicester, no Reino Unido. Ele pode ser dividido em isolamento emocional, onde a conexão profunda com as pessoas é insuficiente, e isolamento social, caracterizado pela falta de interações cotidianas. Reconstruir essas conexões pode parecer um desafio, mas a boa notícia é que alguns passos simples e acessíveis podem ter um impacto positivo.
Passos Simples para Investir na Comunidade
Embora passar tempo com amigos próximos ou familiares seja uma das maneiras mais eficazes de combater a solidão, os especialistas indicam que qualquer tipo de interação social pode ajudar. Segundo a Dra. Gail Saltz, professora associada de psiquiatria do NewYork-Presbyterian Hospital, um pequeno investimento em conversas casuais já faz diferença. Ela sugere aproveitar atividades do cotidiano para trocar palavras gentis com quem está à sua volta — na fila do supermercado ou durante o café, por exemplo.
Para o psicólogo John Duffy, de Chicago, essa pequena mudança pode trazer grandes benefícios. Ele relata que alguns pacientes passam dias inteiros em casa, sem falar com outras pessoas. Estimular esses momentos de interação é uma das principais intervenções que ele sugere para combater o isolamento.
Além disso, ter um animal de estimação, especialmente cães, oferece oportunidades naturais de socialização. Passeios com pets criam chances de conhecer pessoas no parque ou em caminhadas, promovendo uma conexão leve e positiva com a comunidade.
Voluntariado: Benefícios para Você e Para os Outros
Para quem sente dificuldade em se engajar socialmente, o voluntariado pode ser uma ótima solução. De acordo com a Dra. Saltz, dedicar tempo a uma causa não apenas oferece uma sensação de propósito, mas também favorece o contato social em um ambiente acolhedor. O voluntariado ajuda a estabelecer conexões significativas e, segundo teorias evolutivas, atua como um antídoto natural contra a solidão, incentivando-nos a buscar companhia e apoio.
Dados da Gallup mostram que investir tempo e energia em atividades que nos fazem sentir úteis também contribui para combater sentimentos de isolamento. Voluntariar-se em uma área que você valoriza pode proporcionar uma sensação de pertencimento e realização, ambos cruciais para o bem-estar emocional.
Enfrentando a Ansiedade Social: Pequenas Interações Podem Ajudar
Para algumas pessoas, iniciar uma conversa com estranhos pode ser um desafio, especialmente após anos de interação reduzida. A ansiedade social muitas vezes está enraizada no medo do julgamento, explica a Dra. Saltz, o que faz com que as pessoas fiquem preocupadas com a possibilidade de fazer comentários inadequados ou serem rejeitadas.
Nesse contexto, a prática pode ajudar a reduzir esses medos. Duffy, o psicólogo de Chicago, sugere aos seus pacientes que deixem de lado as expectativas de perfeição. Erros são normais e, na maioria das vezes, essas interações, mesmo que rápidas e imperfeitas, contribuem para um maior conforto social ao longo do tempo.
Ensaie algumas frases para iniciar conversas ou comentários leves sobre o dia, sugere Saltz, e se permita aceitar os pensamentos ansiosos que surgem, lembrando-se de que eles não são necessariamente premonições. Com o tempo, esses exercícios podem reduzir a ansiedade social, tornando as interações mais naturais e frequentes.
Cultivando Bons Hábitos Pessoais
À medida que você busca construir laços com outras pessoas, é importante lembrar da importância de cultivar bons hábitos de autocuidado. A Dra. Saltz recomenda reservar tempo para interagir com pessoas que já são parte da sua vida e tentar manter contato com familiares e amigos, mesmo que virtualmente.
As redes sociais, embora possam parecer uma solução rápida para preencher o vazio da solidão, nem sempre promovem uma conexão real. Muitos estudos indicam que, em algumas circunstâncias, o uso excessivo de redes sociais pode intensificar o sentimento de isolamento. Diante disso, Saltz recomenda um uso moderado da internet, limitando o tempo em plataformas que podem acabar ampliando o vazio social.
Cuidar de si mesmo vai além das interações sociais e inclui hábitos que promovem um bom estado de espírito. Passar um tempo ao ar livre e praticar atividades físicas, como caminhadas ou esportes leves, são práticas conhecidas por reduzir o estresse e a ansiedade. A prática de hobbies e o envolvimento em atividades criativas também oferecem uma maneira de se sentir completo e produtivo, mesmo sem uma companhia constante.
Quando Buscar Ajuda Profissional
É importante diferenciar a solidão ocasional dos sinais de que ela está afetando a qualidade de vida. Se os sentimentos de isolamento estão prejudicando o sono, a alimentação ou a capacidade de aproveitar atividades cotidianas, é recomendável procurar apoio profissional. Um terapeuta pode ajudar a identificar as causas desses sentimentos e orientar o paciente a criar estratégias para superá-los.
O apoio profissional pode ser essencial para pessoas que lutam contra o isolamento há mais tempo ou que passaram por mudanças recentes, como perda de entes queridos, mudanças de cidade ou de emprego. Em muitos países, existem linhas de apoio emocional gratuitas, que oferecem orientação para quem enfrenta momentos difíceis.
Conclusão
Embora a solidão seja um desafio crescente, é possível adotar pequenas mudanças no dia a dia para lidar com ela. Investir em interações sociais simples, buscar oportunidades para ser gentil e considerar o voluntariado são maneiras eficazes de criar uma rede de apoio e reduzir o isolamento. Mesmo para quem enfrenta a ansiedade social, os especialistas sugerem começar com interações leves e rotineiras, que podem facilitar a construção de relações mais profundas e significativas ao longo do tempo.
Se você ou alguém que conhece estiver enfrentando problemas de saúde mental relacionados à solidão, lembre-se de que a ajuda está disponível. Nos EUA, por exemplo, é possível ligar para a linha de apoio 988 para receber assistência gratuita e confidencial. A solidão pode ser um problema real, mas passos pequenos e concretos na direção da comunidade e do autocuidado podem fazer toda a diferença.
FONTE: CNN