O fenômeno do “sharenting” — quando os pais compartilham fotos e informações sobre seus filhos nas redes sociais — tem se tornado cada vez mais comum. Embora a intenção por trás desse comportamento geralmente seja a de manter familiares e amigos atualizados sobre a vida das crianças, essa prática pode ter consequências inesperadas e, em alguns casos, prejudiciais. O que muitos pais não percebem é que, ao fazer isso, podem estar expondo seus filhos a uma série de riscos, desde o bullying escolar até o potencial envolvimento de predadores online. Neste artigo, vamos explorar o conceito de sharenting, seus riscos e como os pais podem compartilhar de forma responsável.
O Que é Sharenting?
O termo “sharenting” combina “share” (compartilhar) e “parenting” (paternidade) e refere-se à prática de os pais compartilharem conteúdo sobre seus filhos nas mídias sociais. Isso pode incluir fotos, vídeos e até mesmo informações sobre atividades cotidianas. Embora essa prática possa parecer inofensiva, há uma série de questões que os pais devem considerar antes de clicar no botão “publicar”.
Riscos Associados ao Sharenting
- Bullying e Exposição a Comentários Negativos
As crianças podem ser alvo de bullying, especialmente se suas fotos forem compartilhadas publicamente. Como mencionei em entrevistas anteriores, uma adolescente expressou preocupações sobre como seus colegas poderiam usar fotos postadas por seus pais para zombar dela. Com o aumento do bullying online, as redes sociais se tornaram uma plataforma onde as humilhações podem se espalhar rapidamente. Fotos embaraçosas podem ser utilizadas em conversas em grupo e tiradas de contexto para humilhar a criança. - Uso Indevido por Estranhos
O compartilhamento imprudente pode também resultar em que imagens de crianças sejam desviadas e utilizadas em contextos perigosos, como sites ilegais ou de pedofilia. Informações aparentemente inofensivas, como o nome da escola da criança ou a localização do ponto de ônibus, podem fornecer detalhes suficientes para que predadores a localizem na vida real. - Impactos Futuros na Vida Pessoal e Profissional
Além do bullying, as fotos que os pais compartilham agora podem ressurgir no futuro, potencialmente prejudicando a vida pessoal e profissional de seus filhos. Imagine uma criança que, anos depois, tenta se candidatar a um cargo político e vê fotos engraçadas de sua infância sendo usadas por opositores. A natureza digital dos conteúdos torna quase impossível apagá-los completamente. - Pressões e Expectativas
Outra questão importante é o que o sharenting ensina às crianças sobre validação e autoimagem. Ao crescer sob os holofotes das redes sociais, as crianças podem internalizar a ideia de que precisam se apresentar de maneira atraente ou interessante para serem valorizadas. Essa pressão pode ter efeitos adversos na saúde mental, especialmente entre as meninas, que já enfrentam padrões de beleza e comportamento extremamente rigorosos na sociedade.
O Que as Crianças Aprendem com o Sharenting
Além dos riscos diretos, o sharenting também influencia a maneira como as crianças percebem seu valor e identidade. Se crescerem sob a expectativa de que devem constantemente atrair a atenção dos outros, é provável que desenvolvam uma dependência da validação externa, o que pode levar a problemas de autoestima e saúde mental. De acordo com pesquisas, essa busca por aprovação pode ser associada a altos níveis de ansiedade e sintomas depressivos.
Leah Plunkett, diretora executiva da Harvard Law School Online e autora de Sharenthood: Why We Should Think Before We Talk About Our Kids Online, observa que essa dinâmica é particularmente problemática para meninas, pois elas são frequentemente julgadas com base em sua aparência e comportamento.
Compartilhando de Forma Responsável
Diante dos riscos e implicações do sharenting, como os pais podem compartilhar fotos e informações de maneira mais segura? Aqui estão algumas estratégias:
1. Contas Privadas
A primeira linha de defesa é considerar compartilhar conteúdo apenas em contas privadas. Os pais devem aprovar solicitações de amizade ou seguidores somente de pessoas que conhecem pessoalmente. Embora isso não seja uma solução infalível — já que contas privadas podem ser hackeadas ou pessoas podem não ser tão confiáveis quanto parecem —, é uma maneira de restringir o acesso às informações.
2. Proteção de Identidade
Ao postar fotos, os pais podem usar emojis ou outras formas de ocultar a identidade da criança. Essa abordagem foi adotada por figuras públicas, como Mark Zuckerberg, e ajuda a reduzir os riscos associados ao compartilhamento de imagens.
3. Pensar no Futuro
Antes de compartilhar uma foto, é útil refletir sobre como ela poderia ser interpretada no futuro. A pergunta a se fazer pode ser: “Isso poderia prejudicar a reputação de meu filho ou filha quando eles estiverem mais velhos?” Essa análise crítica pode ajudar a evitar a exposição desnecessária.
4. Limitar Informações Pessoais
Os pais devem ser cautelosos ao compartilhar informações pessoais que possam ser exploradas por estranhos. Nomes de escolas, endereços e dados de localização devem ser mantidos em sigilo tanto quanto possível.
5. Contas de Apoio Sem Nomes Reais
Quando se trata de compartilhar informações delicadas, como condições médicas, os pais podem optar por criar contas anônimas ou usar pseudônimos, evitando assim a exposição direta dos filhos.
Conclusão
Os riscos associados ao sharenting são variados e muitas vezes subestimados pelos pais. É fundamental que os responsáveis reflitam sobre as possíveis consequências de compartilhar informações sobre seus filhos nas redes sociais. Embora o desejo de manter amigos e familiares atualizados seja compreensível, a proteção da privacidade e segurança das crianças deve sempre vir em primeiro lugar.
À medida que as crianças crescem em um mundo cada vez mais digital, é responsabilidade dos pais garantir que seu compartilhamento não as exponha a perigos desnecessários. Compartilhar de forma responsável não apenas protege as crianças, mas também lhes ensina sobre limites e a importância da privacidade em um mundo conectado. O diálogo aberto sobre o uso das redes sociais pode preparar as crianças para navegar nesse ambiente com mais segurança e confiança.
FONTE: CNN
